Cresci de mão dadas com a tristeza.
Perguntei-me vezes sem conta porquê que vim a este mundo.
Porquê a mim.
Sabia ser demasiado nova para tamanho sentimento negativo.
Sabia não merecer absolutamente nada do que havia acontecido.
Cresci de mão dadas com o choro diário.
Com uma infelicidade tremenda.
Com a ideia de que a morte seria mais confortável que a vida.
Não sei bem como ou onde mas as palavras salvaram-me.
De caneta e papel na mão o resto do mundo desaparecia.
Não existia nada mais que eu e tudo aquilo que o meu coração precisava de exteriorizar.
E assim escrevi.
Escrevi muito.
Desde muito nova.
E aos poucos fui deixando o peso que não me pertencia.
Cresci de mãos dadas com a tristeza.
Imagino-me neste momento a abraçar-me no passado porque precisei tanto de alguém que o fizesse. 
Cresci de mãos dadas com o abandono.
Imagino-me a dizer-me que não preciso de mais ninguém a não ser de mim.
Cresci de mãos dadas comigo. 
Sempre comigo.
Fui a única que lá esteve e continuo.
Prometi-me não sofrer mais e assim o fiz.
Congelei sentimentos.
Congelei a própria vida a vivê-la.
Como? Em modo automático.
Até entender anos mais tarde que a pressão de ser sempre feliz era demasiada.
Era insuportável. 
Então obrigo-me hoje então a aceitar que está tudo bem em chorar.
Em sofrer quando assim o sentir necessário.
E a não me sentir fraca por isso.
O escrever ajuda. Ajuda sempre.
Cresci de mãos dadas com a tristeza mas não me criei escrava dela.
Esse é o maior orgulho de toda a minha vida.