A ti. Minha 320.

 A ti. Minha 320.

Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que te vi.

Ouvi de longe que tinha de pedir aos meus pais para que este fosse o primeiro carro que conduzisse.

Sorri e acenei.

Mal sabia eu que iria gravar aquele momento, aquelas palavras como que a ferro quente na minha mente.

Mal sabia eu que aos 14 anos me iria sentar no lugar do condutor e aprender a conduzir contigo. 

Mal sabia eu que te irias tornar como que numa herança de família.

Parte da família, aliás.

Lembraste? Sempre o dissemos. 

Eras nossa. De coração. E na vida real. 

Tornaste-te uma companheira de vida.

Companheira de viagens.

De cantorias.

De sorrisos.

Choros.

Dormidas.

Tornaste-te parte da família pelo amor que te incutimos. 

Eras e és um sonho realizado, ainda que não o meu.

És memórias.

Toda tu.

Cada recanto teu tem uma história para contar. 

Minha.

Nossa.

Eu tu e a luna somos as únicas provas da nossa família.

E como era boa. Diferente. Única. 

Nossa. 

Encostava-me vezes sem conta ao friso do banco de trás direito enquanto olhava para as estrelas e agradecia por estar ali, com todos vocês. 

Os meus, como sempre disse.

Sabes, de todos ficámos nós.

Só nós as duas.

E contigo não me sinto sozinha.

Sinto o prazer que senti a primeira vez que  te conduzi.

O medo da primeira vez que me fugiste.

E a adrenalina, a adrenalina de te ter à minha espera todos os dias.

Não conheço nada tão bem como te conheço a ti.

Sei de cor cada traço, cada barulho, cada assobiar. 

Sei-te de cor. 

Ensinaste-me o prazer da condução. 

Pura. Sem pensar. 

Lembro-me de parar, desligar do mundo, ouvir-te, sentir-te e ir. Ir só. Acelerar. Ouvir-te a assobiar e sentir descargas elétricas pelo corpo.

Sei os teus segundos exatos.

Como que se fôssemos dois em um.

Minha 320.

Achei piada que fosse 23 ao contrário.

Hoje entendo que o teu nome só podia ser o meu número preferido.

Hoje entendo que foste a minha sorte. E sinto-me imensamente agradecida por ter tido oportunidade de te ter. 

E como eu te desejei, como pedi todas as noites até fazer 18 anos que fosses minha.

Sabes porquê?

Ensinaram-me que foste feita de amor. Com amor. 

E eras, és e serás imensa em amor.

Bedabuxinha. São 17 anos de história. 

São memórias incontáveis. 

Minha companheira de vida.

Recebi-te sempre de sorriso no rosto e beijo nessa chapa. 

Minha 320. 

Já escrevi tanta palavra e poderia escrever tantas mais mas chega esta, minha. 

Minha 320.

Serás sempre minha. 

E eu tua.

Sempre.

Ter-te-ei comigo toda a vida. 

Andarás sempre ao meu lado.

No meu coração. 

Tive tanta sorte. Tanta sorte em viver tudo isto contigo. 

Minha.

E eu tua.

Sempre.