Não sei o que a vida nos reserva. Nunca saberei. Jurei amor eterno à minha mãe e aos 18 anos teve cancro pela primeira vez, aos 26 vai na quarta. Caímos para nos levantarmos. Aprendi a perdoar. A entender que cada um de nós a dada altura vai errar, vai magoar e isso nada tem a ver com o amor que sente por nós. Existem dores imensas que assoberbam qualquer pessoa. Perdoei a minha mãe por todos os traumas que me incutiu. Acima de tudo porque eu merecia. E ela também. Jurei amor eterno aos meus pais e eles separaram-se num ápice sem que tivesse sequer tempo de me habituar à ideia. Sem oportunidade de aproveitar um último momento, um último abraço, um último sorriso. Eram o meu porto seguro. O amor dividiu-se e só ficaram as saudades. Jurei amor eterno à 320. Eterno amor de família. E ouvi a polícia dizer pelo intercomunicador de casa que me tinham batido no carro e a pessoa havia fugido. Encontrei-a estacionada no sítio onde a deixei em cima de outro carro e de lateral batida. Sabem, nós nunca sabemos o dia de amanhã. A próxima hora. Já perdi tudo aquilo que eu dizia ser meu. Tudo aquilo que me caracterizava. Não vou dizer que cada vez dói menos porque é mentira. Cada vez dói mais. Como se a dor se pudesse somar, multiplicar até. Cada vez dói mais. Sem dúvida alguma. Mas a vida continua. Nunca pára por nada nem ninguém.O sol continua a nascer e a pôr-se, a lua continua a espreitar todas as noites pela janela do quarto. A vida simplesmente continua. Sem esperas. Sem desculpas. Ela continua e eu continuo com ela. Perdi tudo. Mas ganhei o dobro. Às vezes isto aquece o meu coração, outras nem tanto. E está tudo bem. A falta do que tanto amámos irá sempre existir.