não escrevi uma quinta dos contos.
pela primeira vez esqueci-me, completamente.
talvez pelo cansaço extremo ou a necessidade de fazer sempre alguma coisa.
talvez pela vida, que me tem levado a lidar novamente com os meus piores demónios que achava eu estarem enterrados.
não escrevi uma quinta dos contos.
não me lembrei.
estava concentrada em resolver-me, entender-me.
a mim e a tudo em meu redor.
já perdi tanto, já me levaram o chão, a vida como a conhecia.
e irei sempre sentir falta dela, essa vida, passada, que me criou, que fez de mim criança, miúda, mulher.
do porto seguro.
dos meus, tão meus.
que lá estavam, contra tudo e todos.
irei para todo o sempre ter saudades.
e ainda bem, só prova o quanto pudemos ser felizes.
é essa felicidade que levo no coração.
não posso mais sofrer silenciosamente por algo em que não tive responsabilidade alguma.
as decisões não foram minhas.
agora só posso eu, ser e fazer melhor.
construir os meus alicerces. novos. sem esse passado.
olho os demónios de frente sem medo, lido com eles com tranquilidade.
deixo até de lhes chamar isso e chamo apenas aprendizagens.
está tudo bem.
devagarinho, em relação a isto, fica tudo bem.
não escrevi quinta dos contos.
em vez disso, abri hoje um pouco o coração.
nada nem ninguém é perfeito.
ainda bem.