#quintadoscontos

Super mulher.
Cresci com o dever de a ser.
Fui educada nesse sentido.
A minha mãe não chorava.
O meu pai dava-lhe a mão e a vida continuava.
A minha mãe teve cancro e eu não pude chorar.
Como se a morte não existisse.
Como se ninguém pudesse sentir aquela dor, a não ser ela.
O meu pai continuou sozinho.
Quando a dor me pareceu maior que a vida desliguei-me.
De sentimentos.
Sonhos.
Tudo.
A primeira vez que me foi dito que o podia fazer, chorar, sentir, estive horas a fazê-lo numa sessão de hipnose e jurei a mim mesma que nunca mais me iria reprimir.
Nunca mais iria chegar aquele ponto, de apenas existir.
De não me conhecer de modo algum.
Ser apenas apática.
Super mulher.
Cresci com o dever de a ser.
E sou.
Sem dúvida alguma que sou.
A super mulher que chora.
E sente.
Sente, tanto.
Mas isso não faz dela fraca.
Nunca fará.